
Imunizante do Instituto Butantan será incluído no calendário nacional de vacinação e deve ampliar o acesso da população já em 2026
O Brasil alcançou um marco histórico no enfrentamento à dengue. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta quarta-feira (26) a primeira vacina totalmente produzida no país contra a doença, desenvolvida pelo Instituto Butantan. O imunizante será ofertado exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e deverá ser incorporado ao calendário nacional de vacinação, com previsão de alcançar mais brasileiros a partir de 2026.
A autorização veio após a assinatura do termo de compromisso entre a Anvisa e o Butantan, encerrando um longo ciclo de pesquisas, ensaios clínicos e investimentos — muitos deles apoiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Vacina nacional amplia autonomia e capacidade de distribuição
Segundo o Ministério da Saúde, a novidade permitirá pela primeira vez uma estratégia de vacinação totalmente planejada com base em um imunizante nacional. “Teremos uma vacina 100% brasileira, capaz de garantir proteção à população e de fortalecer nossa capacidade produtiva”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
A parceria do Butantan com a empresa chinesa WuXi Vaccines foi essencial para viabilizar a produção em larga escala. O imunizante utiliza tecnologia de vírus vivo atenuado, método já consolidado em outras vacinas, e apresentou eficácia global de 74,7% contra dengue sintomática em pessoas de 12 a 59 anos. Contra formas graves, o percentual de proteção chega a 89%, segundo publicação na revista The Lancet Infectious Diseases.
A indicação inicial é para adultos e adolescentes de 12 a 59 anos, mas novos estudos podem ampliar a faixa etária futuramente.
Investimento público impulsionou o desenvolvimento
O Butantan contou com mais de R$ 1,2 bilhão em investimentos do Novo PAC Saúde e apoio contínuo do BNDES. Em 2017, o banco financiou R$ 97,2 milhões em recursos não reembolsáveis para ensaios clínicos e construção de uma planta produtiva. Desde 2008, a instituição já havia destinado recursos para pesquisas envolvendo vacinas contra rotavírus, dengue e leishmaniose.
Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a aprovação consolida a força da ciência nacional. “É uma conquista da pesquisa brasileira e uma vitória para a saúde pública. O investimento público de qualidade salva vidas”, destacou.
Perspectivas para o SUS e impacto no país
Hoje, o Ministério da Saúde distribui vacinas importadas para cerca de 2,7 mil municípios, totalizando mais de 7,4 milhões de doses aplicadas. Para 2025, já estão contratadas 9 milhões de doses da vacina atualmente utilizada no país, destinada a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Outras 9 milhões devem ser entregues em 2027.
Com o novo imunizante, a expectativa é expandir o público vacinado e reduzir ainda mais os impactos da doença, que permanece como um dos principais desafios epidemiológicos do país.
Na próxima semana, um comitê de especialistas do SUS irá definir a estratégia de vacinação, considerando faixas etárias prioritárias e a capacidade de produção inicial.
Panorama da dengue no Brasil
Apesar do desenvolvimento da vacina nacional, a dengue segue exigindo atenção. Até outubro de 2025, o país registrou 1,6 milhão de casos prováveis, uma queda de 75% em relação ao mesmo período de 2024. Os estados com maior incidência são São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
O número de óbitos também apresentou redução significativa: 1,6 mil mortes, 72% a menos que no ano anterior. A maior concentração também está em São Paulo.
Mesmo com a queda expressiva, o Ministério da Saúde reforça que a prevenção ao Aedes aegypti continua essencial.




















