segunda-feira, 21 de outubro de 2024 | 23:49:59 Now19°C

“A EDUCAÇÃO EM NÍVEL MUNICIPAL E ESTADUAL […] É MUITO FRAQUINHA […]. MAS É FRACA, FRAQUINHA” (sic.): A RE-TRATAÇÃO CORPORATIVISTA ANTIVIDA

Cristiano Zonta31 de março de 202210min737
capa-blog-diferenciar-escola-min

Desejo que todos, todas e todes – Professores e Professoras das redes públicas de ensino e demais Profissionais da Educação, especialmente do Município de Barra Velha, sintam-se representados nesta carta ao leitor.

 

Será que a Educação Pública desenvolvida no Município de Barra Velha é fraca, fraquinha? E a Estadual? Ambas fracas, fraquinhas? Onde estão os dados que indicam, pelas diferentes dimensões do fazer educativo – Político-Pedagógico, Gnosiológico, Epistêmo-metológico, a fraqueza desses sistemas educacionais? E a afirmação de que “[…] a educação fraca é uma cultura no Brasil” (sic.), procede? Quais dados, quais pesquisas, quais indicadores e constatações apontam tamanha tese levantada em sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Barra Velha? Quais parâmetros foram estabelecidos para essa fala considerando-se as avaliações em larga e microescalas; os indicadores do desenvolvimento e da aprendizagem humana nos contextos escolares deste país e municipalidade tão diversos e complexos nas suas estruturas e nos modos de organização dos sistemas educativos?

 

Pressuponho que o Vereador que afirmou tal tese referenciou-se nos estudos de J. Claud Forquin, Pierre Bourdieu, Bernard Lair, Bernard Charlot, F. Dubet para citar alguns pensadores de outros países ou aqueles daqui desta terra brasileira que tanto se dedicaram e dedicam a educação como Miguel Arroyo, Nilda Alves, Paulo Freire, Marilena Chauí, Vera Candau, Pedro Demo, Celso Vasconcellos, etc. para entender as relações entre cultura e educação, aprendizagem e construção do saber, formação e desenvolvimento humano. Se não o fez, tal tese não se sustenta.

 

A mais, questiono o não questionado: “[…] professor despreparado, desqualificado; uns se sente desmotivado, outros não estão na profissão errada, enfim”. (sic.) – Quais fontes de informação foram levantadas e pesquisas foram realizadas para afirmar que o professor é desqualificado, despreparado, está na profissão errada nos contextos citados em sessão pública – Escola Pública Municipal e Estadual? Como pode alguém fazer tamanha afirmação sem uma referenciação em fontes plausíveis que superem o senso comum, o conhecimento vulgar, a informação desencontrada? Supere uma fala pelas bordas, no rasante, inconsistente, paupérrima e que, de modo geral, denegriu, desqualificou, rebaixou a estima de Educadores e Educadoras que enfrentam cotidianamente os desafios – da ordem da superestrutura e da infraestrutura, para lembrar Marx; ou ainda, da ordem da ausência de condições materiais, físicas e humanas suficientes para ensinar e educar crianças, adolescentes e jovens no contexto global atual.

 

Após ouvir, indignado, a fala do Vereador, por bom tempo pensei sobre a concepção de escola fraca, ensino fraco, professor fraco, educação fraca, estudo fraco enraizada no modo de pensar do edil que disparou tais adjetivações aos sistemas públicos de educação. Uma concepção que, para ele, remete à ideia de escola forte, ensino forte, professor forte, educação forte quando a criança, adolescente ou o jovem enche seus cadernos de cópias e mais cópias de conteúdos – uma escola conteudista, uma educação bancária, um ensino reprodutor, mnemônico, linear, atrasado – “Eu tiro pelas minhas crianças que toda vida estudaram em colégio público chega em casa sem atividade, sem nada, e os professores não passam nada, é uma coisa muito fraquinha, tão superficial” (sic.). Vejamos quem é fraco, fraquinho, superficial. A Base Nacional e o Currículo do Território Catarinense e o Currículo Municipal que o digam qual o tamanho da fraqueza.

 

A ‘re-tratação’ na sessão da semana seguinte, na Câmara de Vereadores, repleta de expectativas por análises mais contundentes, posicionamentos mais coerentes, atitudes mais decentes em relação ao desrespeito com o Professor e a Educação Pública, apenas mostrou a tratativa (não a retratação), o corporativismo, a fúria cega, o descabido e mal-empregado uso da palavra, outra vez. Bem sustentou Freire que o pior opressor é o oprimido que, descendendo das classes oprimidas assume os lugares de poder, diga-se aqui, pseudo poder. Um poder doentio que faz repetir o erro sem humildade para reconhecer que errou; sem a ousada coragem para tão-somente dizer que, por não saber, apropriou-se de um pseudo saber, uma ideia falsa, uma representação equivocada, um dizer desconexo do que é a Educação e de quem são os Educadores.

 

Ler informações buscadas no site da Fundação Lemann para desdizer o não dito, para colocar remendo novo em tecido velho (discurso), para justificar o injustificável, para dizer o que os professores já sabem há anos (mazelas, dificuldades, problemas estruturais etc., em escolas), foi o mesmo que afirmar a si mesmo que fraca, fraquinha foi a fala feita sem antes se preparar para tal; sem antes estudar para ter o mínimo de referenciação para sustentar o discurso. Tal atitude descabida, incauta, relapsa para o momento só nos mostrou uma verdade incontestável, fundamentalmente ao nobre edil, é preciso estudar e estudar muito para falar de Educação e dos Educadores, caso contrário, se considerarmos o nível de compreensão e de interpretação dos fatos, sequer poderíamos considerá-lo entre os 20% (analogia necessária) do processo seletivo.

 

Quem sabe, e é o que esperamos dos nobres edis que, antes de tratarem de Educação e dos Educadores, haja apropriação e não superficialização de fundamentos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC); Plano Nacional de Educação (PNE); Plano Municipal de Educação (PME); Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE); Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNS); Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – LEI N.º 9394/1996; Constituição Federal de 1988; Declaração Universal dos Direitos Humanos. Busquem nas plataformas da CAPES, em seus bancos de dados, as teses doutorais e pós-doutorais e dissertações, relatórios de pesquisas que tratam da Educação e dos Educadores em múltiplas dimensões; entrem no CNPq, responsável pela pesquisa, ciência e avanços tecnológicos no país para ver quem estuda educação, o que este país tem de informações sobre professores e seus esforços; enfim, se abasteçam do que é legítimo e do que ampara de forma mais consistente o que se diz e como se diz da Educação Pública neste país, em nosso Estado e no Município de Barra Velha.

 

A mais, é saudável e prudente interpretar o que define o Plano Municipal de Educação, pela Lei 1477/2015, no item 10 das diretrizes em relação aos Educadores: “I – Todo compromisso da qualidade do ensino assegura à população o direito à cidadania e à inserção nas atividades produtivas que permitam a elevação constante do nível da qualidade de vida, sendo assim, ela deve ser cumprida desde que ajustada à valorização do magistério, uma vez que os Profissionais da Educação são os que exercem papel decisivo no processo educacional”. Assim, se os Profissionais da Educação exercem papel decisivo no processo educacional, decisiva também é toda e qualquer fala que tende a desrespeitá-los, desmoralizá-los, coloca-los em lugares (consciência sobre) que não os motivem, os enalteçam e os façam ser mais, os projetem e os qualifiquem em vida e profissão.

Corporativismo em espaço público de fortalecimento de práticas democráticas de defesa da vida nada mais é do que antivida.

Professor Doutor Valdir Nogueira 

Cristiano Zonta

Jornalista, Mestre de Cerimônias e Celebrante Social de Casamentos.



Folha Parati

O Jornal Folha Parati, a “voz metropolitana da região”. Foi com esse intuito que nasceu a proposta do jornal que teve sua primeira edição impressa circulando em Barra Velha, São João do Itaperiú e Araquari, gratuitamente, no dia 07 de dezembro de 2009, dia comemorativo ao aniversário de Barra Velha.


Receba nossas novidades