O artista plástico Lenilson Luiz da Silva, nascido e criado na cidade de Barra Velha, litoral norte de Santa Catarina, morreu na madruga dessa sexta-feira, 09, às 00h45, após anos de luta contra o câncer. No dia 13 de junho, ele que era casado e pai, completou 44 anos de idade. A morte foi confirmada por familiares.
Lenilson, além de graduado na área de educação como pedagogo, deixou um legado de muita luta em prol do meio ambiente, quando criou o projeto ‘Liberdade na Gaiola’ no ano de 2022. Ele também era conhecido por todos na cidade pela atuação, inicialmente voluntária, na Associação de Assistência aos Portadores e Ex-Portadores de Câncer (AAPEC) de Barra Velha, associação idealizada em setembro de 2005.
Lenilson era descendente de índios e quilombolas e filho do saudoso pescador Arnoldo Luiz da Silva e da dona Dilza Gonçalves da Silva. Outro dom de Lenilson, era o famoso peixe assado que ele mesmo pescava e preparava para os clientes, que optavam por deliciosos recheios.
Na AAPEC, depois de descobrir um severo câncer de intestino, inclusive tendo que retirar o estômago, Lenilson inicialmente começou como paciente, e depois de um ano de tratamento, como voluntário. Em maio do ano passado, acabou sendo contratado como motorista.
Segundo a tia de Lenilson, a professora Dilcicléia Barros, mesmo com o tratamento, ele apresentou piora no quadro e precisou buscar auxílio médico. Em Joinville, após idas e vindas, na última consulta, na quinta-feira, 08, decidiram mantê-lo internado devido a gravidade do quadro e o estágio final da doença, quando então ele acabou morrendo na madrugada seguinte.
VELÓRIO – O velório começou às 16 horas dessa sexta-feira, 09, na sede da AAPEC, localizada na rua Narciso Manoel Vieira, 12, no bairro Vila Nova. O sepultamento ocorre no sábado, 10, às 9h no cemitério de Barra Velha.
A presidente da AAPEC, Loreti Torres, que está no Mato Grosso. “Primeiramente, estou muito triste com essa notícia e principalmente em não poder estar presente nessa despedida. O Lenilson era nossa inspiração diária, ele realmente gostava de viver e lutava dia a dia para que isso perdurasse por muitos e muitos anos”.
Ainda segundo Loreti, Lenilson participava efetivamente e diariamente da vida de vários outros pacientes com câncer, e era o responsável por levar essas pessoas a unidades de saúde em Joinville e Jaraguá do Sul, onde faziam consultas, exames e tratamentos. “Ele sempre foi muito dedicado, querido e humano, fazia tudo com muito amor com uma entrega ao próximo que era lindo de se ver. E não só eu, mas todos da AAPEC estamos consternados com essa partida, e desejamos muita serenidade a todos os familiares, parentes e amigos, para aceitarem a perda”.
LIBERDADE NA GAIOLA – No ano passado, no dia Nacional do Meio Ambiente, ele deu uma entrevista especial para o portal Dani Meller e falou com muita gratidão sobre o projeto Liberdade na Gaiola, idealizado e criado por ele.
E, segundo ele, à época, apesar de não existirem pesquisas e números que quantifiquem o aprisionamento de pássaros em gaiolas, culturalmente falando, as regiões Sul e Nordeste do país são as que mais aprisionam pássaros para simples deleite de seus tutores ou na pior das hipóteses, para comercialização ilegal mundo afora.
“Infelizmente, é uma tradição que vem de berço, passou dos avós para os filhos e netos. Não podemos culpá-los, mas podemos mudar essa tradição. Naquela época era natural, mas não pode ser normal e eu decidi não aceitar”.
Em fevereiro de 2022 após a morte do pai, de filho de ‘criador de passarinhos em gaiolas’, ele decidiu ser um disseminador da ideia “Liberdade na Gaiola’, época em que virou prática.
Lenilson criou o projeto e fez da gaiola não uma prisão e sim um ‘comedouro nas alturas’ para pássaros de todas as espécies. Ele literalmente arrancou fora as portas e alguns varões e deu asas, não a imaginação, e sim à liberdade daqueles que antes conseguiam ver e sentir o mundo apenas de trás das grades. “Os passarinhos agora vêm, comem e simplesmente vão embora, livres”,
E é claro que uma ideia dessas também não poderia ficar apenas entre quatro paredes, precisava voar e levar a consciência mais longe. E por que não começar pelo principal? As crianças que ainda estão com o caráter em formação, que ainda estão aprendendo?
E foi assim, a primeira gaiola já transformada, foi apresentada aos gestores da escola Municipal Reunida Maria Tusnelda Berdnstorff, no bairro Vila Nova em Barra Velha, e ganhou corpo. Hoje, mais de 30 unidades entre escolas municipais, Centros de Educação Infantis (CEIs), escolas particulares e instituições ligadas ao Meio Ambiente, não só acolheram o projeto como são grandes incentivadores da ideia de um homem simples, com um coração gigante e que pensa lá longe, no futuro da natureza.
“Nunca visei lucro, mas sim em transformar a forma de pensar do outro. Mudar daqui para frente, pois lá atrás o estrago já foi feito. Precisamos dessa mudança. O meio ambiente precisa. Já pensou que aprisionando, lá no futuro nossas gerações não terão o que apreciar?”, questiona Lenilson.
E o projeto do Lenilson agora está por toda parte, as gaiolas abertas estão em escolas, prédios públicos e até em outras cidades. A Polícia Ambiental também é um parceiro dos grandes. Gaiolas apreendidas em ocorrências são entregues ao Lenilson e transformadas pelas mãos de quem luta por uma natureza segura. “E o dia Mundial do Meio ambiente vem só para fortalecer ainda mais a minha vontade de lutar pelo que nos mantém vivos”.
O projeto também tem a aprovação do Fundo da Criança e do Adolescente e atende crianças do bairro Quinta dos Açorianos e o apoio da Polícia Ambiental de Joinville.
DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE – O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 05 de junho, foi estabelecido na conhecida Conferência de Estocolmo e foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).Tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis.
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